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ENUF 2019 destacou a relevância da compreensão do pensamento complexo e não linear

Conceitos atuais como Plenum Cósmico e Código do Universo não podem ser entendidos com pensamento mecanicista, ainda enraizado na sociedade

Na discussão sobre o Plenum Cósmico e a dinâmica não linear dos sistemas vivos, os palestrantes do Encontro de Núcleos Filiados (ENUF 2019) da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE) destacaram a necessidade de sair do pensamento mecanicista fazendo transição para o pensamento complexo. O presidente da SBEE, o médium Maury Rodrigues da Cruz, afirma que “a visão crítica da verdade é uma visão de renovação”.

Nesse sentido, o médium explica, por exemplo, que a fala do “Pai Nosso é muito importante, mas não num processo de repetição. É preciso sentir.” E para isso é preciso reavaliar e ressignificar valores e questões, por exemplo, é necessário reavaliar o significado de igualdade e de crise. A sociedade tem afirmado um sentido de igualdade que massifica e descaracteriza a identidade de cada pessoa. E a crise é vista com medo, onde o futuro tem o significado de destruição – gerando dor e ansiedade. “Se eu tenho um pensamento não linear, eu entendo a crise como oportunidade”, afirma. Essas interpretações estão congeladas dentro do pensamento mecanicista que entende o mundo, o ser humano e a vida como máquina. “O mecanicismo é pragmático e protocolar. Nós precisamos criar padrões, e não protocolos. Os protocolos criam repetições, congelamentos”, critica Maury.

Maury atenta ainda para o fato de que no centro espírita não se pode “fazer domesticação desses valores”. E afirma, “não há igualdade!”. Ele explica que somente no conjunto de tudo é que se pode perceber uma ideia de igualdade. Pois, cada ser é singular, único, e, portanto, diferente. Essa perspectiva rompe com o pensamento repetitivo linear mecanicista e abre o pensamento para uma visão de complexidade, com conexões não lineares.

A busca interior por significados que respondam às questões do ser e do dia a dia é fundamental. Pois, como explica o coordenador de grupo de estudos espíritas, Rui Simon Paz, “a nossa vida é indeterminação, incerteza e não lineariedade”, e é justamente pelos valores e significados mais profundos construídos durante a trajetória de cada um, – valores aqueles que afirmam a dimensão espiritual da vida -, é que cada ser humano consegue enfrentar os desafios que vão surgindo. Nesse sentido, o coordenador do ENUF, Eder Puchalski, defende a necessidade de “romper com a barreira da incredulidade”, sustentada pela ideia de que o conhecimento objetivo responde quase todas as questões, como se o passado pudesse conter todo o presente e futuro, e a vida fosse um processo mecânico e assim totalmente previsível.

Assim, o ser humano não alcança a verdade por um processo de repetição, mas por um processo de reflexão e meditação. A prática da reflexão permite a cada um “alcançar o conteúdo de seu histórico de vida”, explica Maury. E o processo de meditação transporta esse conhecimento para um futuro possível, e a partir daí, juntos – reflexão e meditação – essencializam um conhecimento novo, revitalizando o presente, construindo novas respostas e perspectivas, onde, por exemplo, cabe à crise o significado de oportunidade e transformação. Assim, entende-se que as respostas não estão fora, estão dentro de cada singularidade, de cada ser.

“A reflexão e a meditação geram um aquecimento da temperatura da mentalidade”, afirma Eder. A metáfora visa mostrar que quando um sujeito encontra respostas em si mesmo, ele auxilia na geração de respostas para todo o seu entorno, e na medida em que o grupo tem prontidão para alcançar e interpretar essas novas respostas, a mudança de mentalidade vai acontecendo, mesmo que gradativamente. Isto acontece porque “estar conectado é afetar”, e a base do pensamento complexo se dá justamente pelo entendimento de que a vida se estrutura em rede, como explica o coordenador do ENUF. E essa rede constitui um sistema inteligente aberto e autorregulável, que se transforma conforme a ação de todas as suas partes, ou seja, a transformação de uma parte da rede impacta todas as demais.

COMO ALCANÇAR O PENSAMENTO COMPLEXO?

Para alcançar o pensamento complexo, “o grande desafio é repensar a nossa forma de pensar”, afirma Eder. Há uma série de respostas prontas que são articuladas automaticamente, mas que não respondem, não solucionam e não constroem novas oportunidades, e fazem pior, limitam, geram estagnação, destruição, portanto, dor. “As ideias novas são flutuantes. Só serão reais quando eu sentir segurança em usá-las”, explica. É preciso coragem e esforço para romper com as respostas velhas que não permitem a visão da vida como algo que está sempre se constituindo, compondo novas expressões e questões, ousando buscar respostas, pensar e aplicar conhecimentos fora dos protocolos que impedem a expressão de liberdade.

Rui Paz explica que as respostas mecanicistas tendem a fazer disjunção, separar, desintegrar, descaracterizar – elas funcionam dentro de uma linha de eficácia pela eficácia, e são instituídas pelos protocolos em acordo com próprio o pensamento linear. Assim, estão fechadas dentro do tempo e espaço em que foram criadas. Mas o tempo passa e transforma tudo; já o conhecimento complexo tem a capacidade de promover integração, união, sendo, portanto, conjuntivo. E, assim, alcança um sentido de padrão da vida. “O mecanicismo é protocolo; o complexo é padrão; e a nossa vida é padrão”, afirma Rui.

CAMPO BÁSICO DO UNIVERSO

O professor acadêmico Paulo Brero mostrou que o conhecimento da física quântica já iniciou uma reação frente aos protocolos científicos em relação às inconsistências do pensamento mecânico. Os estudos da física quântica evidenciam que a realidade é entendida e objetivada conforme a natureza do método utilizado. Ou seja, o conhecimento construído está intrinsecamente vinculado ao observador, seu sistema de medida e instrumentos, evidenciando que todo conhecimento ao ser objetivado ganha a materialidade do tempo e espaço em que foi constituído, e sofre todo o processo de transformação subsequente da passagem do tempo na transformação do espaço. E que portanto, não há verdade absoluta, e, como afirma o espírito Antonio Grimm, a verdade é alcançada por aproximação.

Paulo apresentou conceitos da física para chegar na ideia de campo básico do universo. O médico e coordenador de grupos de estudos espíritas, Mário Branco, explica que a ideia de campo é um “recurso para a compreensão integrada da realidade”. E campo básico é a ideia de que tudo está interligado por uma base que guarda os fundamentos da realidade, conservando e transmitindo informação, conectando, sustentando tudo que existe.

Mário apresentou uma linha do tempo, evidenciando que o ser humano sempre esteve em busca de respostas sobre sua própria natureza, origem, bem como pela natureza e origem de tudo, do todo. Ou seja, sempre houve fé na inteligibilidade conectiva da vida. E é possível perceber que essa fé sustentou uma busca que construiu respostas significativas e que permitiram ao homem escrever toda sua história. Nessa busca, há um padrão que evidencia a existência de um Campo Básico do Universo que sustenta tudo o que existe por um sentido de comunicação inteligível não linear por Código Básico do Universo e um Código Básico do Indivíduo. A própria construção do pensamento mecanicista faz parte dessa busca e construção. Porém, “a busca do Código Básico é sempre uma busca aberta”, afirma Mário.

Todos os indivíduos, segundo Mário, são portadores desse Código do Universo: seria o que o espírito Antonio Grimm vem traduzindo como Código Básico do Indivíduo. “Isso expressa a conexão, a ligação entre tudo o que existe, resultado de um mesmo padrão geral de organização”, explica o médico. E cada indivíduo vai entender isso – o Universo e a si mesmo – conforme o conhecimento que já alcançou. “Cada ser expressa a caridade, sustenta a justiça, ama, ensina, aprende, enfim, realiza tudo conforme seu entendimento já alcançado”, analisa. Aqui, sustenta-se a ideia de que a parte está na totalidade, e a totalidade, em cada parte; e o código individual se expressa em cada parte, fazendo sustentação do código universal.

A partir daí, a ideia de um Plenum Cósmico poderá fazer mais sentido. Não existe vazio. A vida preenche todo espaço e por isso alcança e conecta todas as singularidades por uma lógica não linear, revelando uma ordem complexa autogestora e auto-organizadora. Há um padrão essencial que liga tudo, todas as mensagens, elementos, seres vivos, mundos, Universo, espaço, tempo, eternidade, Cosmos, enfim, toda creação, isso porque antes de tudo liga toda creação ao Creador, assim o ser humano a Deus.

Sair do pensamento mecânico é um esforço necessário para resgatar o sentido lógico necessário de humanidade. E a partir daí, alcançar desde o pensamento a visão de um mundo vivo, diverso, que informa e comunica a todo momento mensagens que significam a vida. E, perceber que o ser humano, pertence à natureza, sendo inquilino e zelador da Terra, tendo sustentação e responsabilidade para realizar transformações silenciosas, em harmonia e equilíbrio com o fluxo da natureza.

Presidente da SBEE, Maury Rodrigues da Cruz, fez um chamamento: “Será que estamos fazendo o Espiritismo dentro de uma visão crítica, de dentro para fora? Precisamos ser observadores atentos para pensarmos nisso”.
Presidente da SBEE, Maury Rodrigues da Cruz, chamou a atenção dos dirigentes dos núcleos para a importância do pensamento não linear no processo de entendimento dos novos conceitos espíritas.
“A visão crítica da verdade é uma visão de renovação”.
Coordenador do ENUF, Eder Puchalski: “nossas ideias são flutuantes; só serão reais quando eu sentir segurança em usá-las”.
Professor Rui Paz: “o mecanicismo é protocolo; o complexo é padrão; e a nossa vida é padrão”.
Professor acadêmico Paulo Brero trouxe conhecimentos de Física para o entendimento do campo básico do universo.