ENUF 2019 e a importância do centro espírita
Núcleos espíritas representam a sustentabilidade moral que traz a responsabilidade transformacional para um momento novo na humanidade
MECANICISMO EXACERBADO
“A Doutrina Espírita nasce na égide do mecanicismo”, lembrou Maury. Por conta disso, esse mecanicismo – pragmático, protocolar – trouxe alguns entendimentos equivocados à humanidade que precisam, urgentemente, ser repensados e sanados. Como o entendimento sobre doenças, por exemplo, que é o reflexo de “que não estamos nos enxergando. “Vamos nos curar quando tivermos a coragem de nos voltarmos ao nosso organismo e fazer equilíbrio”, afirmou. Na Economia, o processo de precificação é outro desafio a ser superado. “É um processo doentio que move a todos nós. O homem é político, é econômico, mas é também social”, reiterou. Na prece, que deve ser a conclusão do meu conhecimento, do que penso sobre o mundo, sobre a humanidade. “A prece é a extensão do conhecimento moral e social”, afirmou. E a religião, que não deve ser “processo, deve ser racionalidade crítica, avaliação de metáforas que os espíritos nos trazem”.
“Os núcleos espíritas são plataformas de um momento novo na humanidade”. Esse foi um dos chamamentos feitos pelo professor Maury Rodrigues da Cruz, presidente da SBEE, em sua palestra no Encontro de Núcleos Filiados (ENUF 2019), em Curitiba (PR), no dia 14 de setembro. Ele reforçou a responsabilidade dos agentes espíritas na sociedade, com base na Doutrina que nos dá suporte de sustentabilidade moral e, consequentemente, responsabilidade transformacional.
Para tanto, ele reforça, é preciso recontextualizar a mensagem espírita nessa ordem moral. E saber repassar essa mensagem não é a única tarefa importante dos núcleos e seus agentes. “É preciso saber ouvir. Ouvir não é prescrever; não podemos ultrapassar o limite do livre-arbítrio das pessoas. Vamos receber pessoas que talvez não vão conseguir processar os conceitos. Por isso, é preciso ouvi-las com alteralidade”, alertou. Ouvir sempre valorizando o outro, trazendo a ele identificação e a possibilidade do diálogo, sem julgamento.
O ideal é somar conhecimento, promover o crescimento mútuo e dar a ele autonomia, como explica o coordenador do ENUF, Eder Puchalski, que trouxe durante o evento algumas orientações sobre essas conversas e orientações filosóficas que os agentes mediúnicos atuantes nos núcleos devem fazer: os chamados ‘gabinetes filosóficos’. “Vivemos em uma base católica, na qual a cultura salvacionista é muito forte. Então a ideia de que ‘dependemos de alguém’ também é forte. Por isso, temos que mostrar a quem nos procura a importância da autonomia, que o importante é o fortalecimento de dentro para fora, sem angústias, culpas – sentimentos que aparecem na maioria das pessoas que nos procuram”, ressalta Eder.
Alfeu Garcia, que atende gabinetes filosóficos e também coordena grupos de estudos na SBEE, alerta que acolher as pessoas é fundamental. No entanto, ele reforça que é preciso fazer alguns chamamentos para a Doutrina Espírita, como a importância do projeto de vida, o sistema reencarnatório, entre outros. Além de não criar vínculos fortes com a pessoa – pois assim a autonomia não é salientada – e não fazer ‘prescrições’, tampouco determinar comportamentos – pois dentro da visão não linear é preciso chamar a atenção para a reflexão e a meditação e estimular que a pessoa tenha autonomia para resolver sozinha seus desafios de vida.
Assim, as indagações sobre “será que estamos fazendo o Espiritismo em uma visão crítica, de dentro para fora?” devem nortear as atividades dentro da casa espírita, então, segundo Maury. Nesse sentido, o centro espírita tem a responsabilidade da linguagem, dos aconselhamentos, e os agentes que nele trabalham deve estar sempre em prontidão para fazer discursos que atinjam construtivamente e significativamente que os procura. Como a comunicação está em rede, todo o entorno será facilmente atingido pelas informações, novas e construtivas, de que a Doutrina Espírita dispõe. “Esses discursos devem sensibilizar os agentes mediúnicos a aumentar a massa crítica”, alerta o presidente da SBEE.
DESCONSTRUÇÃO FILOSÓFICA
O exercício mediúnico – grupos que desenvolvem estudos na sede da SBEE e também em todos os núcleos – deve trazer aos exercitandos autoridade moral, alegria, estímulo à construção em benefício da humanidade, é uma plataforma de renovação. “O médium tem que aprender a sentir, a pensar e a agir”, enumera Maury.
O centro espírita é uma plataforma de construção humana, onde estão presentes a ciência, a filosofia e a religião. Por meio do projeto político-pedagógico, do currículo, dos programas, prioriza alcançar o homem. “O centro espírita tem a responsabilidade da linguagem, dos aconselhamentos, e deve estar sempre preparado para fazer discursos que sensibilizem os agentes mediúnicos a aumentar a massa crítica. Então o centro espírita tem que ser essa plataforma do novo, tem que ser vanguarda; mas para ser vanguarda, tem que ser através de nós”, reitera Maury, referindo-se à importância dos agentes mediúnicos.