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2019: ano de muito trabalho, estudo e pesquisa na SBEE

IV Seminário de Psicopictografia discutiu sensibilidade e ação artística na reespiritualização do mundo e o Seminário Complexidade trouxe à tona debate sobre a base do pensamento da SBEE

Participantes do Seminário Diálogos: Processo e Produção Pscopictográfica.

Corpus mediúnico, avaliação do produto mediúnico e histórico da psicopictografia na SBEE foram os principais temas tratados no Seminário Diálogos: Processo e Produção Psicopictográfica. Realizado no dia 7 de dezembro no Centro de Convivência Catarina Boaventura, o evento reuniu 21 médiuns da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE) participantes dos grupos de psicopictografia da casa e do Museu Nacional do Espiritismo (Munespi).

A coordenadora geral dos grupos de Psicopictografia, Christiane Petrelli, disse que a ideia do encontro é “promover um novo patamar da psicopictografia”, procurando, pelo diálogo, novas leituras da realidade, do processo mediúnico, bem como da sensibilidade e do potencial artístico, de forma a alcançar um propósito maior: colaborar no processo de reespiritualização do mundo e diminuir a dor social. 

A médium Silmara Küster, participante de grupo psicopictográfico no Distrito Federal, lembrou da importância do entendimento sobre corpus mediúnico na realização dessas atividades. “O corpus mediúnico tem uma dimensão maior do que o próprio produto mediúnico”, explica. É ele que dá sustentação a todo esse processo. “O corpus mediúnico não é dado, é construído”, ressalta. Nessa construção, Silmara explica que o médium só alcança a materialização do produto mediúnico pela sustentação de todos os participantes envolvidos. Ressaltou ainda que o produto mediúnico implica em superação, que permite ao médium e a todos os envolvidos no processo um novo olhar sobre o mundo, trazendo-os para um sentido presente da vida.

Bernardo Perna, membro de grupo de atividades psicopictográficas em Curitiba, trouxe à discussão a importância do processo avaliativo na psicopictografia. “Avaliar implica em perguntar”, afirmou ele. Bernardo apresentou uma série de perguntas filosóficas sobre a vida, que questionam o quanto cada médium se percebeu, se desenvolveu e cresceu com a oportunidade do processo mediúnico.

Bernardo Perna: “avaliar implica em perguntar”.

A avaliação fortalece a percepção de que há um somatório da ação de todos na constituição das obras de psicopictografia, reiterando a responsabilidade de cada médium na construção de um mundo melhor. A conexão essencial com a arte, com a estética e com a sensibilidade torna as obras de psicopictografia mensagens vivas, altamente dialógicas com a sociedade, seja pelo conjunto ou de indivíduo a indivíduo. Essas mensagens trazem força capaz de promover reequilíbrio e harmonia, sustentados pela lei de transautoecoorganização que opera em toda a vida. E colaboram na redução da dor gerada pela depressão, angústia, ansiedade e medos que fazem parte da vida na Terra.

Com o olhar sobre o significado da vida na Terra, o coordenador do Munespi, Eder Puchalski, refletiu sobre a visão e percepção de que o mundo é muito grande. E que essa constatação gera duas perspectivas: uma delas é construtiva, e outra, de certa forma, frustrante. A frustração vem por um sentido de impotência diante da leitura de que o tempo do mundo é diferente do tempo de cada um. Uma avaliação rápida e superficial pode levar as pessoas a se isolarem e se afastarem, em vez de buscar agir e se conectar.

Mas a visão do processo mediúnico permite a cada um perceber que existe um sentido organizador no conjunto, que integra o tempo e o espaço, enquanto cada singularidade faz sua expressão pelo envolvimento de um sentimento de pertencimento. 

Eder avalia que “a psicopictografia não é um trabalho da SBEE, de seus corredores e câmaras de passes, mas é algo maior do que isso, é um serviço à humanidade”. Pois, na materialização da mensagem mediúnica, em especial na psicopictografia, pelo concurso da arte, o olhar do sensível é uma forma de entender o sentido e o significado da vida. 

O coordenador do Munespi, Eder Puchalski, ressaltou que o trabalho de psicopictografia transcende os muros da SBEE; é uma obra para a humanidade.

HISTÓRIA DOS GRUPOS DE PSICOPICTOGRAFIA

É o exercício de sensibilidade, fé, amor e coragem que constrói a história da arte psicopictográfica. A médium Ieda Coelho compartilhou sobre sua história na criação do primeiro grupo de psicopictografia da SBEE, em 1979. O grupo começou com o propósito de compor mensagens psicográficas, mas os fatos eram contados em séries de pinturas. Então, o espírito Antonio Grimm orientou que o grupo se dedicasse exclusivamente à atividade de psicopictografia. Ieda destaca a dedicação à expressão artística de Monet, e ela divide essa experiência em duas fases. A primeira é a de concepção de mentalidade e a segunda é de intuição, que permitiu materializar obras com ideias novas.

Nesses 40 anos de trabalho, das quais as médiuns (presentes no IV Seminário) Ieda, Arilene Cytrynski, Lúcia Calluf foram pioneiras, as atividades de psicopictografia passaram por inúmeras mudanças e adaptações; novos grupos surgiram, além de novos conceitos, perspectivas e desafios; surgiu a psicomúsica, trazendo novas emoções, sentimentos e mensagens, constituindo nova abrangência do corpus mediúnico e mantendo o compromisso de servir e alcançar à humanidade de expressões altamente sensíveis e construtoras de mundo com mais alegria, amor e harmonia.

Ieda Coelho relembrou a história da Psicopictografia na SBEE.
Pioneiros ou contemporâneos dos trabalhos de Psicopictografia na SBEE, amigos se reuniram no seminário para um momento de reflexão sobre os trabalhos realizados há cerca de 40 anos. Christiane Petrelli, primeira da esquerda para direita, disse que o Seminário vem promover um novo patamar na Psicopictografia.

SEMINÁRIO COMPLEXIDADE: DISCUSSÃO SOBRE A BASE DE PENSAMENTO DA SBEE

A linha de pensamento da SBEE é toda baseada na teoria da complexidade. No dia 11 de novembro foi realizado um seminário para tratar desse tema. Entre os diversos assuntos abordados no encontro estavam Teoria Geral dos Sistemas, física moderna, dinâmica não linear dos sistemas vivos, complexidade e hipercomplexidade, teorias do homem na história e método imanente.

De acordo com o sociólogo francês Edgar Morin, a teoria da complexidade propõe uma mudança de pensamento que romperia com a especialização, a simplificação e a fragmentação de saberes. Ou seja, o fundamento dessa teoria está na incerteza, nas contradições como parte da condição humana, e a religação dos saberes como fundamental, trazendo multiplicidade e diversidade aos pensamentos. A consciência de si e do mundo, com ética, é uma das bases desse pensamento complexo.

Durante o seminário, para contextualizar, uma retrospectiva histórica foi realizada para facilitar o entendimento sobre os temas; como por exemplo a ruptura de pensamento mecanicista preponderante entre a Idade Média até a Idade Moderna e a renovação do pensamento em todas as áreas de conhecimento, como filosofia e literatura principalmente. E depois, mudanças importantes nos pensamentos científicos, como a inserção dos métodos de avaliação e observação. Desde Isaac Newton, no século 18, com o mecanicismo, o pensamento religioso, o racionalismo clássico, até o início do século 20, com a quebra de algumas regras científicas. Antes, o homem como uma “máquina”, depois como apenas um coadjuvante na natureza, passivo e contemplativo, e por fim já como alguém que toma suas próprias decisões, ciente das divergências de pensamentos, com discussões e análises críticas acerca dos fatos.

O coordenador de grupos de estudos na SBEE e pesquisador da Doutrina Espírita, Milton Brero, trouxe para a discussão a teoria geral dos sistemas, desenvolvida por Ludwig Bertalanfy. A teoria propõe uma abordagem do mundo real, utilizando inúmeras formas e recursos para a representação da realidade, concebendo-a como totalidade integrada. Bertalanfy afirmou que “de uma maneira ou de outra, somos forçados a tratar com complexos, com totalidades ou sistema em todos os campos de conhecimento”.

A palavra ‘Complexidade’ vem de Complexus, que significa ‘aquilo que é tecido em conjunto’. A complexidade é um tecido de constituintes heterogêneos associados, resultando no paradoxo do uno e do múltiplo. A complexidade implica que não é possível deduzir as propriedades do sistema através do conhecimento de cada parte. Num sistema complexo ocorre o fenômeno da emergência, onde surgem características que não seriam possíveis de prever através do estudo de cada parte. Sistemas complexos são sistemas não-lineares.

O pesquisador Milton Brero trouxe para a discussão a teoria geral dos sistemas.

Edgar Morin, em 1977, trouxe a ideia de polissistema, ou seja, um sistema dentro de outro sistema – termo utilizado pelos espíritos da casa, em especial Antonio Grimm, para definir onde os espíritos estão quando encarnados ou desencarnados: polissistema material e espiritual. Lembrando ainda que Grimm faz essa abordagem sistêmica dentro do Espiritismo levando a um melhor entendimento sobre passado, presente e futuro. Milton Brero também abordou a teoria da trans-auto-organização dos sistemas vivos – existe uma unidade entre espírito, matéria e corpo, e a mente seria uma subestação do espírito; a lei rege tudo que há no universo, sendo que cada organismo tem seu próprio mecanismo de comunicação.

O pesquisador da SBEE Raul Dias mostrou alguns conceitos de física moderna, exemplificando com vídeos e experimentos, falando também sobre espaço, tempo, realidade, relatividade, gravidade, radiação, Big Bang, matéria e energia escura, forças, física quântica, entre outros assuntos.

O pesquisador Raul Dias propôs diversas discussões sobre física moderna, com uma apresentação interativa.

O professor e também pesquisador da SBEE, Paulo Brero, explicou a diferença entre sistemas lineares e não lineares, pontos de equilíbrio – os sistemas tendem para um ponto de equilíbrio, como um carro, por exemplo, descendo a ladeira e em um determinado momento ele vai parar – e as características dos sistemas auto-organizados. Antonio Grimm, orientador da SBEE, afirma que a dinâmica não linear impera em todo o universo, assim, o pensamento do ser humano, o movimento de um animal ou de uma planta, o trabalho mediúnico, a energia, a linguagem, entre outros, são não lineares.

Paulo Brero trouxe ainda informações sobre forma (organizadora do organismo, do objeto) e substância (estrutura do organismo ou do objeto). No desencarne, por exemplo, a forma acaba, mas a substância, não, como explica o professor.

Professor e um dos coordenadores do NEP, Paulo Brero falou sobre sistemas lineares e não lineares.

O método imanente (quando o homem busca suas próprias potencialidades e por meio delas responde seus questionamentos), a teoria do homem, a antropoética foram alguns dos temas propostos pelo professor e sociólogo Rui Paz. A antropoética, a ‘ética da humanidade’, faz com que os seres humanos se reconheçam iguais em substância, mas diferentes em essência, com suas singularidades.

O salto quântico foi outro tema tratado no seminário. Nessas duas últimas décadas, a humanidade tem experimentado os efeitos dele, que permeia todo o cotidiano. No entanto, como lembrou o professor Rui, ainda vivemos com as ideias mecanicistas impregnadas. “Portanto, é preciso urgentemente ―esvaziar a mente e romper com a lógica mecanicista do século 16 e buscar preenche-la com o pensamento novo, transdisciplinar e complexo. É preciso alcançar a não-linearidade e a indeterminação como pressupostos coerentes com os princípios que fundamentam a realidade manifesta sensível a nossa percepção”, completou o professor.

O professor e sociólogo Rui Paz ressaltou a necessidade do rompimento com o sistema mecanicista, assunto que foi tratado durante todo o ano de 2019 na SBEE.
Médico e pesquisador espírita, Mario Branco destacou alguns tópicos, como método imanente, conhecimento, entre outros.