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Orientação acerca do desencarne

Por Maury Rodrigues da Cruz

Vivemos o período reencarnatório aprendendo de forma mais direta a cultura da localidade onde reencarnamos, e, dentro do nosso alcance possível, aprendendo a cultura de toda a humanidade.

Na medida em que vamos aprendendo a cultura, vamos alcançando o arbítrio de ir, vir, permanecer e ficar, criando condições de nos movimentarmos no espaço, que é plástico, permitindo-nos criar, recriar, inovar.

Assim, como espíritos encarnados vamos vivendo até nos tornarmos adultos e sairmos da tutela dos pais, e continuamos em permanente aprendizado. Na medida em que aprendemos, mudamos comportamento, nos administramos. Trazemos as dimensões cognitiva, afetiva, psicomotora e conativa. Vivendo, nós vamos registrando todos os eventos através do cognitivo, vamos expressando e construindo afetividade nas relações com todos e com o meio, vamos fazendo e vivendo movimentos através da psicomotricidade, vamos nos dando ciência de uma proteção física e mental, através da conatividade. No sentido da conatividade, necessário se faz nos acautelarmos, pois atualmente, em função do regime capitalista no mundo, particularmente no ocidente, a cada dia que passa estamos perdendo a capacidade de fazer essa proteção, iludidos pelos apelos do materialismo.

Nesse contexto materialista, se não tivermos cautela, usaremos o cognitivo para conhecer cada vez mais, mas não saberemos aplicar este conhecimento adequadamente; teremos um afetivo que nos leva a um distanciamento das pessoas porque não conseguimos compreendê-las para expressar o nosso amor por elas; seremos uma psicomotricidade que não se movimenta adequadamente, porque utilizamos, na maior parte das vezes, automóveis, não cuidando do corpo para termos a chamada movimentação necessária ao equilíbrio psico-bio-físico; e o nosso conativo, que é a capacidade de nos protegermos e que estaria ligada aos outros três — o cognitivo, o afetivo e o psicomotor — fica, na prática, desconectado.

Tornamo-nos, então, desprotegidos. Desprotegidos por nós mesmos, não desprotegidos por Deus, porque Deus é imanente em nós. Ao nos desprotegermos, produzimos padrões vibratórios cujas frequências não se sintonizam com as dos nossos semelhantes que fazem parte da nossa rede de sustentação, ou não conseguimos decodificar adequadamente as orientações protetoras que chegam a cada um de nós através de todas as vias. Na medida em que nos desprotegemos, não nos ligamos adequadamente às frentes civilizatórias que deveríamos integrar.

Ao envelhecermos, nós temos que concomitantemente aperfeiçoar o cognitivo. Tudo o que aprendemos temos que atrelar ao afetivo e ao psicomotor e assim melhorarmos as relações humanas, o nível mental e as linhas de ação. Enfim, nos encaminharmos para exercer as funções que deveríamos fazer.

É necessário que ao olharmos para o corpo físico de uma pessoa que desencarnou, entendamos que todos nós estamos na fila do desencarne, que cada dia que passa é um dia a menos para permanecermos materialmente na Terra. Então, é necessário compreender que é muito importante o presente, compreender a necessidade de fazer o presente da melhor forma possível, tendo lealdade, comprometimento e amor ao próximo.

Deus não é um homem velho de barbas longas, Deus é a força da natureza, dos rios, das águas, dos oceanos, dos pássaros voando, de todos os animais. Deus é também o homem com a sua beleza mental, moral, com o seu poder de pensamento, seu campo mediúnico, suas interações, suas ações.

Nós precisamos compreender essa dignificação da pessoa, bem como compreender que nós não podemos permanecer no contexto da matéria indefinidamente, pois o corpo físico possui limitações.

Cada indivíduo, além dos espíritos afins que compõem o grupo oculto, está ligado a cerca de dez mil pessoas na Terra. Isto não quer dizer que essas pessoas sejam nossos parentes atuais ou de outros estágios reencarnatórios. Eles têm algumas características parecidas com as nossas, por exemplo, o timbre de voz, o formato do olho, uma característica de cor de pele, gosto por comidas semelhante ao nosso, o perfil mediúnico assemelhado ao nosso, etc. E cada uma dessas dez mil pessoas, às quais somos ligados, é ligada também a outras dez mil, assim compondo a humanidade. Nessa composição da humanidade nós temos que entender que ao desencarnar um indivíduo já reencarnam outros que suprirão aquela ausência, trazendo a inovação e fazendo a dinamicidade do equilíbrio evolutivo.

Lembremo-nos sempre que Deus não erra. Cada um de nós tem uma capacidade de atualizar a reprodução celular e, assim, preservar, diminuir ou aumentar o nosso capital de vida orgânica. Cada um de nós tem um desiderato. A conjunção destes fatores determinará um tempo para ficarmos na Terra. É preciso compreender o desencarne e não nos lastimarmos por ele.

Por isso é tão importante descobrirmos esse Deus imanente. Não é rótulo religioso, é descobrir que temos um Creador. Não é possível imaginarmos que o Universo surgiu de uma grande explosão, ao acaso, e que desta explosão surgiram creaturas inteligentes, com capacidades cognitiva, afetiva, psicomotora e conativa diferenciadas. No dia em que ao estourar uma gráfica, ao quebrar toda a gráfica, chegarmos lá e estiver montado um dicionário, aí poderemos dizer que a criação é espontânea. Mas isso nunca aconteceu e acreditamos que não virá a acontecer. Acreditamos que haja uma inteligência que coordena o Cosmos, portanto, coordena a Terra e nos coordena a todos.

Quando aqueles indivíduos a quem somos muito afeiçoados deixarem a Terra, devemos ter muita paciência e — compreendendo o desencarne, assim como o reencarne, como fundamentos da justiça do Creador — emitir pensamentos positivos, procurando lembrar daquele que partiu, pois agora ele, que apenas se libertou da Terra, continuará ouvindo a nossa mensagem, interagindo conosco, dentro de nossas possibilidades vibratórias.

Por um tempo ele não poderá vir aqui porque está materialmente ausente da Terra e, espiritualmente, ainda não consegue adaptar-se à frequência da Terra, mas ele receberá a mensagem. Se o amamos devemos dizer mentalmente isto a ele, orientá-lo a ter paciência para esta nova adaptação. Também devemos, mentalmente, dizer a ele que queremos que ele esteja bem, asseverando-lhe que ele transpôs o pórtico da vida material para a espiritual. Que ele tenha compreensão, que se ajuste, que procure compreender as instruções dos instrutores superiores para que ele possa fazer uma carreira frutífera pelo bem dele, para a sua evolução e para o bem de todos.

É o momento para prece, lembrando que prece não é repetir rezas decoradas. Prece é lembrar das coisas boas, positivas ao desenvolvimento humano e planetário, que fizemos juntos na convivência com essa pessoa. É fazer um segundo olhar sobre os acontecimentos vividos em comum, mesmo aqueles árduos, tristes, em que às vezes fomos rudes, mas que nos serviram de base para a transformação em pessoas melhores. É lembrar de pessoas boas que transitaram ou transitam pela Terra e dizer: “Meu Deus, muito obrigado”. Prece é lembrar de pessoas que têm grande dificuldade em praticar o bem e dizer: “Meu Deus, faça com que ele melhore”. Esta é a grande mensagem que nós podemos mandar para pessoas que desencarnaram.

É significativo que todos tenham a memória viva do desencarnado, porque ele continua vivo. Que não o vejam como morto no cemitério, porque o espírito não se encontra mais naquele local. No cemitério permanecem apenas os resíduos orgânicos e minerais.

No que diz respeito àqueles despojos humanos recém-depositados no cemitério, poderão alguns irmãos nossos, pela faculdade mediúnica, enxergar formas holográficas humanas, ver a imagem em três dimensões, com riqueza de detalhes, de indivíduos que estiveram reencarnados na Terra, mas que não passam de formas fluídicas.

Por falta de uma cultura espírita adequada, por não saber diferenciar a vidência propriamente dita da percepção de formas holográficas, persiste ainda o equívoco de que se está vendo espírito no cemitério.

O pós-desencarne é momento de construção mental, moral e espiritual do desencarnado, como também dos que permanecem encarnados que devem mentalizar sempre palavras ajustadoras, ressignificadoras, dignificadoras e tranquilizadoras para este novo caminho do desencarnado e dos que permanecem encarnados.

Ao desencarnar rompem-se os três plexos (cerebral, solar e funcional) e o espírito, juntamente com o perispírito, se desliga do corpo físico. O desencarnado entra numa outra frequência, diferente da frequência da matéria, e é transportado para um outro local. Chegando lá será bem recebido. Alguns não têm noção que desencarnaram. Quando os espíritos instrutores percebem que eles não têm noção, montam imagens holográficas parecidas com a família terrena dos indivíduos. E eles ficam algum tempo imaginando que ainda estão encarnados.

Em seguida começam a aparecer diante deles figuras diferenciadas. Aproximam-se enfermeiros, que conversam com eles, perguntam como se sentem, se precisam de alguma coisa, etc.

No desencarne o perispírito se desliga dos restos mortais. O que ainda permanece por um tempo são os residuais que representam uma energia. Nós usamos o termo evolação para designar a emanação dos resíduos perispiríticos que retornam ao perispírito do indivíduo durante as primeiras 72 horas após o desencarne. Durante este processo o indivíduo poderá ter algumas sensações ligadas à memória corporal. Por isso, no caso de cremação, aconselhamos aguardar 72 horas.

Aqui na Terra o indivíduo se alimenta de proteínas, carboidratos, sais minerais, vitaminas e vai processar mecanicamente. Quando desencarnar, não vai comer mecanicamente, não vai andar mecanicamente, não vai falar mecanicamente. Todas essas ações serão feitas no sentido de energia e controladas pelo pensamento, e ele vai aprendendo aos poucos que tem capacidade para fazer isso. Não se fala pela boca e nem se caminha usando as pernas. Tudo é por força de frequência mental.

Em suma, dependendo do grau de evolução do espírito, o indivíduo fica de 10 a 15 dias, em geral, imaginando que está encarnado e que está melhorando.

Os espíritos responsáveis por ele colocam formas holográficas semelhantes aos parentes, amigos, pessoas significativas, para que o espírito não se angustie, até que alguém vem e informa, com tranquilidade e com uma didática especial, que ele desencarnou.

Nesse momento, ele pode se desesperar um pouco e em geral quer saber como está a sua família. É o momento em que os espíritos orientadores permitem que ele enxergue os seus familiares, onde quer que eles estejam e, por isso, é bom que os familiares estejam tranquilos, não estejam se lastimando ou sofrendo, para não angustiar o desencarnado. Vendo que está tudo bem, ele se acalma.

Em seguida mostram um aparelho semelhante a um televisor (estamos fazendo uma alegoria ligada à consciência de cada um) que possui alguns botões, que ele pode pressionar. Ao pressionar o botão, ele revê a encarnação que se encerrou: se vê reencarnando, junto com a família, crescendo, sendo adulto, tendo independência e livre-arbítrio. Ele se vê operando a sua caminhada aqui na Terra.

Esse televisor é diferente daquele que nós assistimos aqui na Terra, pois é em três dimensões, no qual ele verá cada instante da sua reencarnação, até o último minuto quando ocorreu o seu desencarne. Os espíritos responsáveis irão, conjuntamente com ele, fazer uma avaliação de tudo o que ele fez, mostrando o que cada ato causou aos outros, positiva ou negativamente, em função do seu livre-arbítrio.

Na continuidade, ele irá se adaptando ao novo estágio como desencarnado, percebendo cada vez mais a nova realidade. Não terá mais a dor física, poderá ter um pouco de dor moral, dependendo de suas condutas e das consequências destas, quando ele terá que justificar isso a si mesmo.

Depois disso, ele poderá ficar num ambiente semelhante a um hospital para se recuperar, seguindo depois para um novo aprendizado, no qual ele vai ter que reaprender a andar, a se locomover, a se alimentar e a falar, porque no polissistema espiritual não se anda, não se locomove, não se alimenta e nem se fala mecanicamente, mas sim pelo pensamento.

A partir de então, devagar, ele vai evoluindo nestes novos mecanismos de ação. Ele pode ler, se alimentar, ele pode ligar esse televisor em outro canal no qual vê coisas diferenciadas como luzes, flores, músicas, etc. Dependendo de sua área de conhecimento, acessará o que lhe permita melhor entendimento e aproveitamento.

Os recursos do espírito são imensos, variados, a seleção e escolha depende do seu campo de ação, pois é em torno do seu campo de ação e das suas necessidades que vão lhe aparecer a distração, entretenimento, a escolarização, a prestação de serviços. Assim, ele vai compreendendo melhor as coisas. Neste período a mãe poderá visitá-lo, depois pessoas desencarnadas muito ligadas a ele poderão visitá-lo para que ele veja que elas continuam vivas, para conscientizar-se de que ele não morreu, que ele apenas desencarnou.

Quando ele compreende que não morreu, que já caminha e se move pelo pensamento, se alimenta e fala pelo pensamento, os espíritos instrutores o encaminham para um lugar semelhante a uma cidade. Ainda como um estagiário, ele ficará com outras pessoas, todas muito solícitas, para receber tratamento especial, permanecendo ali por um determinado tempo, até que irá para um outro local onde ele vai aprender outras coisas e vão lhe perguntar o que ele gostaria de fazer, pois ele vai ter que fazer alguma coisa. Ele pode desenvolver música com outras pessoas, ensinar alguma coisa, conversar com as pessoas, aprender a ouvi-las, tudo em conformidade com seus talentos.

Resumidamente, dentro da percepção e do entendimento espírita, assim é o desencarne. Não é dolorido como nós imaginamos.

O desencarne é necessário porque as precariedades da Terra estão no nosso corpo também. A Terra e suas formas são frágeis. Nós pegamos um pouco de argila e mesmo que a consolidemos num boneco basta forçar um pouquinho e ele se quebra. Vivendo intensamente e observando profundamente, percebemos que tudo o que é da Terra é passageiro, é tudo pó e as formas aqui produzidas apenas transitam pela vida. O que não é pó é o espírito, que é o autor, o ator e o portador da cultura. O espírito é uma organização e uma estrutura perene.

Quando agenciamos o nosso espiritual para que ele possa alcançar um pouco mais daquilo que representam outras dimensões de vida inteligente, nós percebemos que temos a capacidade de fazer equilíbrio e harmonia em qualquer situação. Então, nada nos assustará, nada nos colocará em situação de desespero ou de desajustamento.

Rio de Janeiro, 20 de janeiro de 2018

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Cruz, Maury Rodrigues da,  1940 –

       Orientação acerca do desencarne.  Maury Rodrigues da Cruz. Curitiba: SBEE, 12 p., 2018.

ISBN: 978-85-86180-53-8

1. Espiritismo – Escritos Psicofonados. 2 Reencarnação. I. Tïtulo. II Grimm, Antonio (espírito).

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