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Presidente da SBEE, Maury Rodrigues da Cruz, avalia ENUF 2019

Neste fim de semana (14 e 15 de setembro) será realizado na SBEE o Encontro Nacional de Núcleos Filiados (ENUF). Para falar um pouco sobre o tema deste ano, bem como sobre a unidade na mensagem espírita da SBEE, a importância dos centros espíritas e dos agentes mediúnicos na sociedade, convidamos o presidente da SBEE, professor Maury Rodrigues da Cruz. Confira.

Como o senhor avalia a importância do tema do ENUF deste ano – Plenum Cósmico e a Dinâmica Não Linear dos Seres Vivos? Qual a relevância do entendimento sobre esse tema para os coordenadores e dirigentes de núcleos filiados?
Maury Rodrigues da Cruz —- A doutrina dos espíritos nesse momento tem todo um entendimento sobre a influência do século 17 e a composição mecanicista que tomou conta da ciência, da filosofia, das artes e da vida em geral. Essa repetição vem acontecendo até hoje. No entanto, o sistema de ideias espiritista vem trazendo paulatinamente, mas com firmeza, uma noção da não linearidade dos acontecimentos no Universo. Mostrando que o Universo tem uma inteligência, e que nessa inteligência (que nós acreditamos que seja efetivamente o grande Creador) as coisas têm o poder de se auto-organizar, desde um pequeno nicho na natureza até grandes acontecimentos, como por exemplo o Ártico, a dimensão dos oceanos. Tudo isso tem contínuo poder de se reorganizar, está dentro dessa noção não linear, em que temos que entender as teorias vinculadas ao chamado processante da complexidade.

Essa auto-organização, essa dinâmica não linear, está dentro desse processante da complexidade, não é?
Maury
—- Sim, e o Espiritismo não pode ficar distante dessa visão crítica de sistemas de complexidade, consequentemente, de sistemas da natureza. Nós somos seres humanos, mas pertencemos à natureza, nosso polissistema cultural é aberto – às vezes tentamos fechar, mas é aberto. Eles [os espíritos] têm uma visão não linear, e nessa visão os espíritos se manifestam e sempre deixam um fundamento daquilo que representa pegar um pequeno pedaço do passado, visitar o futuro e revitalizar o presente, fazendo o entendimento de que a parte está ligada ao todo, o todo à totalidade, e a totalidade à todas as partes. Isso significa criar uma grande consciência plasmática da necessidade (e nesse momento, mais do que nunca) de entender a vida da Terra dentro de um processo único, unicista, e não só da vida humana, mas toda a vida da Terra, toda ela interligada, interconectada nessa dimensão da não linearidade e na teoria da complexidade.

E como a mensagem espiritista fica atrelada a tudo isso e como deve ser repassada aos dirigentes dos núcleos e à sociedade de um modo geral?
Maury
— A mensagem espiritista está dentro desse teor e neste semestre [no ENUF] falaremos desse plenum cósmico. Os conferencistas, aqueles que vão trazer a mensagem, vão procurar decodificá-la da melhor maneira possível para que os nossos núcleos estejam em prontidão para um trabalho construtivo, que nesse momento representa reagir contra o mecanicismo, horrível, que não tem feito outra coisa senão criar um congelamento, impedindo grandes transformações. Nós, médiuns, não somos máquinas, o homem não é máquina, ninguém é máquina. Nós somos filhos humanos pensantes, reagentes, emotivos, que esperamos grandes transformações no mundo.

Dentro desse contexto, qual a importância dos encontros de núcleos no sentido de unificar e valorizar a mensagem espírita da SBEE?
Maury
— O encontro dos núcleos filiados, essa base nacional da SBEE – encontro com os agentes que nesse momento estão nos ajudando a contextualizar da melhor forma possível aqueles pontos essenciais da obra de Kardec -, vem nos permitindo criar uma linguagem única em torno da ciência, da filosofia e da religião, num processo de cogência. Todos os núcleos já trabalham hoje, por exemplo, alguns temas, como o mediunato; a transferência de frequência mediúnica terapêutica. Então os núcleos começam a fazer essa linguagem, mas num contexto racional, operativo, funcional, que poderá ajudar muito não só eles mesmos, mas particularmente os seres humanos, os médiuns. Esses médiuns, cientes da responsabilidade dessa transmissão, dessa participação, vão gradualmente compreendendo que devem aumentar a massa crítica, prosperar num nível de inteligência e de construção humana. No encontro, todos nós fazemos a exposição das nossas ideias e, consequentemente, vamos solidificando um arcabouço de uma nova linguagem espírita que tenha essa linha de atuação de ciência, filosofia e religião.

Esses encontros com os núcleos, ao longo dos anos, têm efetivamente atingido esses objetivos, na sua avaliação?
Maury
— Sim, isso vem se concretizando. Tenho estado em contato com os núcleos filiados e percebo, por exemplo, o quanto evoluíram os núcleos do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, principalmente por conta desses encontros. Nós fazemos recomendações nesses momentos, as encaminhamos, o que é altamente salutar, cria expectativas e vai consolidando esse arcabouço dessa nova linguagem, que é extremamente importante. Não podemos mais continuar trabalhando, por exemplo, “encosto”, “espírito mau”, “falange”, não. Nós temos que trabalhar uma linguagem condizente com aquilo que dizemos que é o Espiritismo, uma linguagem em torno da ciência; temos que ter uma linguagem não necessariamente acadêmica, mas num contorno de uma racionalidade crítica, que permita uma compreensão melhor dos nossos temas, da temática espírita e da evolução do Espiritismo no tempo e no espaço brasileiro, mundial.

Considerando os núcleos como espaços extremamente relevantes para a comunidade de seu entorno e também para toda a sociedade no sentido de compor uma mentalidade, como o senhor avalia a importância do centro espírita, e principalmente dos nossos núcleos filiados?
Maury
— O centro espírita é uma plataforma de construção humana, onde nós temos ciência, filosofia e religião. Por meio do nosso projeto político-pedagógico, do currículo, dos programas, prioriza alcançar o homem. Então o centro espírita tem a responsabilidade da linguagem, dos aconselhamentos, e deve estar sempre preparado para fazer discursos que sensibilizem os agentes mediúnicos a aumentar a massa crítica. Então o centro espírita tem que ser essa plataforma do novo, tem que ser vanguarda; mas para ser vanguarda, tem que ser através de nós.

Nós, todos os agentes mediúnicos, temos grande responsabilidade em toda essa construção.
Maury
— Sim. E o que nós precisamos é de médiuns, que se transformaram em agentes mediúnicos, cultos, inteligentes, preparados, dentro do estágio de prontidão cultural em que vivem, que saibam a que título estão ali, qual a mensagem que têm que traduzir. Então o centro espírita é absolutamente aberto, capilar; cada um de nós tem que ser capilar. O centro espírita é vivo, mas vivo através de nós, médiuns, que ouvimos e interpretamos a mensagem dos espíritos, entendendo que essa mensagem é um chamamento para a ciência, a filosofia e a religião; numa grande responsabilidade em que possamos ter ajustamentos contínuos, diários, para que da melhor forma possível, por meio dessa política pedagógica da cultura, da educação, ensinar a pensar. Aprendendo a pensar, aprendemos a ter autocontrole, a nos autoconhecer, vivenciar valores mais positivos, ter grande alegria de dizer a nós mesmos que somos espíritas. Temos que ter respeito com a Doutrina Espírita, consideração com os espíritos e ler a obra que estamos produzindo. Temos que necessariamente transformar o centro espírita nessa plataforma aberta, dimensionada na construção de um mundo melhor, particularmente através dos médiuns. Mas para isso precisamos que todos estejam em prontidão para receber a mensagem e transformá-la em benefício daqueles que estão trabalhando, que é o homem.